A Polônia é um país rico em história e cultura, mas também em mistérios e lendas. Um dos mais intrigantes é o mito dos vampiros, seres sobrenaturais que se alimentam de sangue humano e que podem retornar dos mortos para assombrar os vivos. Embora hoje em dia sejam vistos como personagens de ficção, no passado eram temidos como uma ameaça real e perigosa.
O Pavor do Sobrenatural
Para evitar que os mortos se transformassem nestas criaturas, ou que os já existentes saíssem de seus túmulos, os habitantes da Polônia recorriam a diversas práticas funerárias chamadas apotropismo, rituais destinados a afastar o mal.
Arqueólogos que estudam os cemitérios poloneses dos séculos 16 e 17 têm encontrado vários exemplos desses enterros apotropaicos, revelando os medos e crenças das pessoas da época.
Em julho de 2023, uma equipe da Universidade Nicolau Copérnico de Torun descobriu em Pien, uma vila no sudeste da Polônia, os restos mortais de uma criança enterrada de bruços, com um cadeado triangular perto dos pés. Esse tipo de sepultamento era considerado uma forma de impedir que o morto se levantasse ou saísse do caixão.
Em 2022, a mesma equipe já havia encontrado na mesma vila o corpo de uma mulher jovem com um item semelhante no dedão do pé e uma foice sobre a garganta. Enquanto o cadeado tinha a função de impedir a ressurreição, a foice servia para cortar a cabeça do vampiro caso ele tentasse se erguer. Outras ferramentas usadas incluíam pedras, estacas ou moedas.
Um Fenômeno Europeu
Esses casos datam da Alta Idade Média e também foram encontrados em outros países da Europa Central e Oriental, como Eslováquia, Hungria, Áustria e Romênia. Eles tendem a aparecer com mais frequência em épocas de tragédias coletivas, como epidemias, guerras ou fome, quando as pessoas podiam atribuir as desgraças à ação do mal.
O século XVII foi um período especialmente difícil para a Polônia, que enfrentou invasões estrangeiras, conflitos internos, crises econômicas e surtos de peste.
A Investigação Arqueológica
Os arqueólogos que estudam essas práticas tentam entender as razões e os significados, mas muitas vezes se deparam com diversas incertezas. Os motivos específicos por trás desses rituais antivampiros provavelmente se perderam no tempo. O que resta são os vestígios materiais que testemunham a existência de um mundo no qual o sobrenatural e o natural se misturavam, pontuado pelo medo constante da morte e do desconhecido.
Em suma, os enterros apotropaicos na Polônia e em outras partes da Europa são um lembrete fascinante e perturbador das crenças antigas e do medo do sobrenatural. Essas práticas revelam muito sobre a mentalidade das pessoas que viveram em épocas passadas e como elas enfrentavam as incertezas e os terrores do seu mundo.