Artigo
A vida dos escravos reprodutores no Brasil
30/06/2024

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A escravidão no Brasil é um capítulo sombrio da história, marcado por práticas desumanas e cruéis. Uma dessas práticas era o esquema de reprodução de escravos, muito comum nas grandes fazendas de café e cana de açúcar dos séculos 18 e 19. A menos que você seja um profundo estudioso da história da escravatura no Brasil, talvez não saiba que os escravos mais fortes e saudáveis eram selecionados para serem reprodutores nas senzalas.

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Isso mesmo, na época sombria da escravatura, processos semelhantes à reprodução em massa de gados ocorriam com seres humanos negros. O objetivo dos senhores de escravos era aumentar o número de indivíduos nas fazendas sem precisar pagar por eles.

“Filho de escravo… escravo era.”

A Lei do Ventre Livre, assinada em 1871, propôs que os filhos de mães escravizadas, nascidos a partir dessa data, estariam livres.

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Mas antes dessa lei, todo bebê nascido de uma escrava também era escravo e pertencia ao senhor de sua mãe. Por isso, os senhores de escravos passaram pelo menos dois séculos “cruzando” escravos para manter suas senzalas sempre cheias. O esquema funcionava assim: os escravos do sexo masculino, fortes, altos e saudáveis, eram selecionados para o trabalho humilhante de ter relações íntimas regulares com as escravas a fim de engravidá-las.

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As escravas eram também selecionadas pelo histórico de saúde e condição física. Assim que as meninas menstruassem pela primeira vez, já poderiam receber as visitas regulares dos reprodutores.

A Realidade Desumana

As jovens mães que tinham bons partos de bebês saudáveis eram incentivadas a engravidar novamente.

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Muitas escravas pariam até dez filhos sob ordem dos feitores. Este costume, comum nas grandes fazendas de escravos no Brasil, era extremamente constrangedor. Os homens muitas vezes precisavam manter relações com meninas muito novas, ou filhas de amigos, esposas ou namoradas de companheiros próximos. Uma situação muito desagradável e humilhante. Embora nem todos os senhores de escravos exigissem esse procedimento, há diversos registros apontando tal desrespeito.

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O Escravo Reprodutor “Pata-Seca”

Uma das histórias mais conhecidas é a de um escravo chamado Roque José Florêncio, conhecido como “Pata-Seca”. Ele viveu no início do século 19 na região onde hoje é São Carlos, em São Paulo. Devido a seu porte físico e ótimo rendimento no trabalho braçal, Pata-Seca foi declarado “escravo reprodutor de alta qualidade”.

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Ele tinha 2,18 metros de altura e, na época, acreditava-se que escravos mais altos eram mais fortes e tinham maior tendência a gerarem filhos homens. O interesse dos senhores era aumentar o número de escravos homens, considerados a melhor mão de obra para os trabalhos forçados do campo.

Vida e Obrigações de Pata-Seca

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Pata-Seca era obrigado a visitar as senzalas regularmente para violar as mulheres selecionadas. Registros indicam que ele teve mais de 200 filhos saudáveis ao longo da vida. Especialistas estimam que cerca de 30% da população do vilarejo de Santa Eudóxia, na região de São Carlos, seja descendente direta desse homem. Seu sucesso como reprodutor lhe rendeu muitas regalias: ele não trabalhava na lavoura, cuidava dos cavalos da fazenda e buscava correspondências para seu senhor.

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Ele comia na cozinha da casa grande e tinha uma alimentação diferenciada.

Amor e Dever

Em um certo momento da vida, Roque se apaixonou e seu senhor permitiu que ele levasse a esposa para viver com ele em um casebre dentro das terras da fazenda. O casal teve nove filhos. Porém, mesmo casado, Pata-Seca ainda precisava visitar as mulheres da senzala regularmente.

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Ele cumpriu suas obrigações até o fim de sua virilidade, que, segundo registros, durou quase 90 anos. Historiadores acreditam que ele viveu até os 130 anos. Pata-Seca faleceu em 1958, com um documento de óbito apontando insuficiência cardíaca, miocardite, esclerose e senilidade. A falta de documentos com datas claras sobre o nascimento e a morte de Pata-Seca dificulta a confirmação da sua idade.

Essas histórias revelam a crueldade e a desumanidade da escravidão no Brasil, mostrando que a realidade enfrentada pelos escravos ia muito além do trabalho forçado nas plantações.

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